quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Doação de órgãos e tecidos no Brasil avança em pequenos passos.

Por: Louise Moraes
7° Período - Madureira

As indicações para transplante de órgãos estão se tornando mais frequentes, elevando o número de potenciais receptores. Contudo, esse aumento na demanda não tem acompanhado a oferta de órgãos para transplante.

Isso ocorre não apenas pela desproporção entre o número de pacientes aguardando transplante e o número de pessoas que apresentam morte encefálica (situação propícia para a doação de órgãos), mas também devido à baixa taxa de identificação e efetivação dos potenciais doadores.

Um doador é capaz de salvar mais de vinte pessoas. Foto: divulgação.


Apesar do número de transplante de órgãos no Brasil ter aumentado em 15,7% no primeiro semestre de 2017, se comparado com o mesmo período do ano anterior, tendo em vista a complexidade do processo de doação-transplante, poucos possíveis doadores tornam-se doadores efetivos.

Segundo Roberto Manfro, presidente da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), o Brasil se encontra mundialmente em um nível intermediário de doações. Nosso índice é de 16,2 doações pmp (por milhão de população) por ano, enquanto os países mais desenvolvidos possuem 35 pmp em média.

Portanto, é necessário ampliar a conscientização da população sobre o significado e a importância do processo de doação-transplante. Roberto comentou a respeito:

— Falar que a doação de órgãos é tabu não é verdade. Hoje em dia, todas as religiões são a favor dos transplantes. O grande problema é a falta de esclarecimento em relação às doações. Quando as pessoas são esclarecidas, elas entendem e se posicionam a favor. O diagnóstico de morte encefálica no Brasil é um dos mais seguros do mundo, como exige a legislação, mas tem gente não acredita. Por isso, tem que melhorar a quantidade de informações em todos meios: população, agentes de saúde e classe médica.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, também ressalta que a recusa em doar órgãos ainda é um desafio a ser superado.

— A cada ano batemos novos recordes, mas em algumas modalidades de transplante temos cinco anos de fila de espera, cerca de 40% das famílias se recusam a fazer a doação dos órgãos de parentes falecidos. Então há um conjunto de medidas a tomar. Precisamos fazer campanhas de conscientização para que as famílias autorizem a doação de órgãos, e facilitar a regulação da legislação que envolve essa questão.

Recusa de familiares por potenciais doadores no Nordeste em 2016.
Recusa de familiares por potenciais doadores no Nordeste em 2016.
Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Orgãos.










Doação em vida

O doador em vida deve estar saudável, de acordo com avaliação médica, ter mais de 21 anos, ser capaz juridicamente e concordar com a doação. Entretanto, a doação ocorrerá apenas se o transplante não comprometer suas aptidões vitais. 

Podem ser doados para transplante: o rim, medula óssea e parte do fígado ou do pulmão. Para doar a pessoas que não são parte da família, é preciso ter autorização judicial. No caso de cônjuges e parentes de até quarto grau, com compatibilidade sanguínea, não é necessário o aval da justiça.

Doação após a morte​

No Brasil, para ser doador não é necessário deixar documento por escrito. Basta comunicar previamente a família, pois somente os parentes podem autorizar a doação. Para as pessoas que são casadas, quem autoriza é o conjugue. Se houver filhos maiores de 18 anos, a decisão é deles. Em outro caso, a escolha é feita pelos pais do falecido. Por fim, os parentes próximos.

A doação de órgãos e tecidos pode ocorrer após a constatação de morte encefálica, que significa a interrupção irreversível das funções cerebrais. O doador é capaz de salvar mais de vinte pessoas, podendo doar córneas, coração, fígado, pulmão, rim, pâncreas, ossos, vasos sanguíneos, pele, tendões e cartilagem.         

  • Uma pessoa em coma também pode ser doadora?

Não. Coma é um estado reversível. Morte encefálica é um quadro irreversível. Uma pessoa apenas se torna potencial doadora depois do correto diagnóstico de morte encefálica, e da autorização dos familiares para a retirada dos órgãos. Para constatar a morte encefálica, primeiro são feitos testes neurológicos, os quais são repetidos seis horas depois. Ao final, ainda é realizado um exame complementar (um eletroencefalograma ou uma arteriografia).  

  • Como é feita a cirurgia?

Os transplantes ocorrem através de uma cirurgia tradicional e todos os cuidados de reconstituição do corpo são obrigatórios pela Lei n° 9.434/1997. Ao termino do procedimento, o corpo fica como antes, sem qualquer deformidade. Não há necessidade de sepultamentos especiais.  

  • Podemos escolher o receptor?

Não, este será sempre indicado pela Central de Transplantes, a não ser em caso de doação em vida. Quando existe mais de um receptor compatível, a decisão sobre quem receberá o órgão passa por critérios previamente estabelecidos: como tempo de espera e urgência do caso. A Central de Transplantes emite uma lista de potenciais receptores para cada órgão e comunica aos hospitais e às equipes de transplantes responsáveis pelos pacientes

  • Restrições para doação

São considerados critérios mínimos de seleção como idade e o diagnóstico que levou à morte e o tipo sanguíneo; esses são itens estudados do provável doador para saber se há receptor compatível. A restrição absoluta para doação será em casos de pessoas com doenças infecciosas ativas e aidéticos. Além disso, fumantes não são doadores de pulmão.

  • Cadastramento na fila de transplantes

Tanto os pacientes particulares, como os da rede conveniada, ou indicados pelo SUS, passam pelos mesmos exames e seguem protocolos iguais. São todos inscritos de forma gratuita na fila de espera por um órgão de doador falecido.

A fila é unificada e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes. Ao ser cadastrado, os pacientes são separados de acordo com o órgão que necessitam, tipo sanguíneo e outras especificações técnicas. Embora a lista única tenha ordem cronológica de inscrição, a chamada, dependendo do órgão, leva em conta também a gravidade do problema e a compatibilidade sanguínea/genética com o doador. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário