domingo, 7 de outubro de 2018

Infâncias Interrompidas

Conheça o triste quadro de milhares de crianças brasileiras que não encontram apoio na família e dependem das instituições para sobreviver


(Foto: Daniel Malafaia)
Sem qualquer condição financeira, muitas crianças são obrigadas a adotar os subempregos, que demandam altas jornadas de trabalho e baixíssima remuneração. 

Por: Daniel Malafaia
6° Período

Em 2012 foi divulgada uma pesquisa pelo Governo Federal, apontando que aproximadamente 24 mil crianças e adolescentes estavam em situação de rua nas 75 cidades brasileiras pesquisadas, sendo 32,3% dos casos ocasionados por discussão com os pais, 30,6% por violência doméstica e 30,4% por uso de álcool e drogas. O mais alarmante é que aparentemente o quadro não se reverteu, pois em 2014 foi registrado (também pelo Governo Federal) que 36.032 menores viviam em abrigos, mostrando assim que mesmo dois anos depois essa triste situação persistiu.

Anderson Damião é coordenador do Abrigo Lisaura Ruas, localizado em Itaipu, e, apesar de ter encontrado uma "saída", também vivenciou uma realidade cruel – assim como milhares de crianças brasileiras.

"Lá em casa era muito difícil. Minha mãe era alcoólatra e, até os meus seis anos, ela já tinha tentado me matar três vezes. O único pensamento que me vinha à cabeça era que ela só tinha tentado fazer aquilo para evitar que eu sofresse mais”, relata o coordenador.

Felizmente, o jovem Anderson teve a sorte de ser acolhido por uma família que deu todo o suporte para se restabelecer como indivíduo.

“Minha mãe trabalhava em casa de família e, com isso, ela passou a não ter tempo de me levar para a FUNABEM (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), uma instituição que provia comida, cama e outras coisas essenciais para um adolescente, para onde ela me levava todo domingo para passar a semana. Como eu acompanhava ela no trabalho, acabei me envolvendo com aquela família, que me acolheu como filho. Ela vendo que era a melhor opção para minha vida, começou a se afastar, deixando que eles cuidassem de mim. Anos depois recebi a notícia que ela havia falecido", declara.

O abrigo Lisaura Ruas funciona nos moldes de acolhimento institucional, em que se abriga menores de 7 a 18 anos em um período de dois anos apenas, tendo nesse prazo audiências de seis em seis meses para apuração de sua possibilidade de volta para a sociedade. Lá, o menor têm uma rotina de um lar, toma café, tem reforço escolar, almoça, vai para a escola, lancha, brinca, e o principal, sabe que ali vai estar seguro para dormir tranquilo, longe do frio, da exploração e da violência.

“Apesar de o órgão mantenedor do nosso abrigo ser a prefeitura, nós recebemos várias doações de instituições filantrópicas, que doam mimos para os adolescentes e nos ajudam com suprimentos quando pegamos uma gestão “complicada” na prefeitura. A corrupção já nos atrapalhou muito…”, lamenta.

Para Rafael Lirio, Conselheiro do I Conselho Tutelar de Niterói, a situação é bem mais grave do que a forma como é apresentada pela mídia, afirmando que a realidade dos menores, principalmente das regiões periféricas do Rio de Janeiro, é extremamente contundente.

“Todos os dias nós recebemos menores que têm seus direitos violados de múltiplas formas, desde falta de escola até violência doméstica, e por vários motivos, como falta de estrutura familiar, social ou mesmo rebeldia, nós agimos em todos esses casos, garantindo os direitos que, por vezes, eles mesmos violam”, comenta Rafael.

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