quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Jornalista esportivo afirma que o maior inimigo da editoria é o tempo

Por Jessyca Damaso
6º período

Confira a entrevista concedida pelo jornalista esportivo Patrick Monteiro que se formou em 2014, na Universidade Cândido Mendes e trabalhou em lugares como no site do Chelsea Brasil e nos jornais O Fluminense e LANCE!




1 – Onde se formou, em qual ano e qual a sua trajetória profissional?


Patrick - Conclui a graduação de Jornalismo em dezembro de 2014, pela Universidade Candido Mendes. Minha primeira experiência foi no site Chelsea Brasil, onde fiquei por um ano, produzindo um trabalho voluntário, mas sendo responsável pelos principais conteúdos do site. No sexto período, comecei a estagiar no jornal O Fluminense, onde fiquei por dois anos (um como estagiário, além de seis meses como trainee e seis meses como profissional da casa). Lá, tive minha maior experiência profissional, pois, ainda como estagiário, cobri a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, in loco. Foram seis jogos: três pela fase de grupos (Bélgica x Rússia, Chile x Espanha e França x Equador), uma oitavas de final (Colômbia x Uruguai), uma quartas de final (Alemanha x França) e a final (Alemanha x Argentina). Na sequência, fui para o Diário LANCE!. Nesta empresa, foram sete meses de trabalhos variados (sempre relacionados ao futebol), como a cobertura do Fluminense FC, na condição de setorista.


2 – Você acha que o jornalismo esportivo vem perdendo sua essência e vem dando lugar a uma mistura de jornalismo com o entretenimento?


Patrick - Acho que seria um erro responder "sim" ou "não". O jornalismo esportivo, no contexto geral, segue com sua essência. Porém, não se pode negar que, atualmente, existe uma forte preocupação com o entretenimento, a qual eu considero exagerada. Não é difícil notar esse "exagero" ao assistirmos alguns programas de canais de TV especializados no assunto e acompanharmos suas respectivas páginas em redes sociais. Creio que isso aparece menos nos canais mais tradicionais e com mais "tempo de estrada". Isso também está muito ligado ao gosto do consumidor, mas eu, particularmente, como "consumidor", ainda prefiro acompanhar o esporte de forma mais técnica e menos "espetacularizada". Nas rádios e nos sites, esse "fenômeno" também acontece. Entendo que os jornais impressos seguem mais tradicionais, em sua maioria, na comparação com os outros mencionados acima. No caso das TVs abertas, que cobrem o esporte eventualmente, considero mais aceitável essa preocupação com o "show midiático", já que elas precisam abranger um público muito heterogêneo.


3 – O que diferencia uma abordagem de uma editoria esportiva para uma de outra editoria?


Patrick - A editoria esportiva sempre vai ser mais "alegre". É uma linguagem muito mais leve e próxima do receptor da mensagem. Porém, caso o repórter não fique atento, isso pode empobrecer seu texto, o que não é legal. Resumindo, o esporte te dá toda a liberdade para você explorar o seu texto, quebrar o protocolo do engessado "lead", etc. Mas é preciso ter criatividade para não se perder no meio das linhas.


4 – Quais são as maiores dificuldades encontradas na produção de matérias em uma editoria esportiva?


Patrick - O grande inimigo, hoje, não só do esporte, mas de todas as editorias, é o tempo. A internet contribuiu muito para facilitar o trabalho do repórter, mas tirou-lhe a paz. Uma coisa que me deixa bastante chateado é que a grande preocupação das empresas deste ramo passou a ser "publicar primeiro que o concorrente". Em nome desta velocidade desregulada, vale tudo, até uma informação errada (infelizmente). Apesar de ter essa opinião, já peguei o jornalismo na era moderna e, portanto, não tenho vivência em uma redação sem estes recursos técnicos e sua consequente exigência por velocidade. No entanto, ainda assim, vejo isso como um opositor ao bom trabalho. Textos bem elaborados estão cada vez mais escassos no nosso meio. Fora essa questão, a falta de estrutura do local de trabalho (seja ele a sua redação ou o ambiente em que a pauta será produzida) são outras dificuldades, em alguns casos.


5 – O esporte acabou se tornando um produto midiático e da cultura de massa. Pois nota-se a produção e a veiculação de outras temáticas que não só envolvem assuntos relacionados as competições, mas também a vida pessoal dos atletas. O que você pensa sobre essa transformação do esporte em espetáculo?


Patrick - Essa questão me faz voltar a refletir na n° 2. De forma simples, entendo que, se a publicação da vida pessoal do atleta estiver ligada às superações dos mesmos para obter o sucesso esportivo, temos aí um ótimo ponto a abordar. Porém, quando passa para a fiscalização da vida social do atleta, torna-se uma questão bastante discutível. O esporte deve se resumir ao que acontece nos campos/quadras e nos treinos. Felizmente, nunca tive que produzir um conteúdo focado naquilo que chamados de "fofoca".


6 – Você acha que a experiência dentro de campo de um ex-atleta profissional é suficiente para assumir uma função de comentarista?


Patrick - Esse tema é, talvez, o mais polêmico nas conversas informais dos jornalistas. Contrariando boa parte (ou quase todos - risos) dos meus colegas, não vejo problema algum em ex-atletas assumirem os microfones. Não podemos ser hipócritas e acharmos que sabemos mais sobre o assunto do que quem viveu ele de fato. É óbvio que o ex-jogador sempre terá uma visão mais completa do seu esporte praticado. E isso é bom, pois complementa o trabalho do jornalista, que é mais técnico para informar e explicar. Em suma, vejo que há espaço para os dois (jornalistas e atletas), e a existência de um não precisa anular a do outro. Cada um faz a sua função e todo mundo (inclusive o público) sai feliz. E a nossa função é estudar para informar e opinar.


7 – Você pode me contar alguma curiosidades sobre o mundo do jornalismo esportivo?


Patrick - Uma coisa que me impressionou bastante é a diferença de percepção da realidade que o repórter e o telespectador/ouvinte/leitor têm. Lembro que, quando comecei a cobrir as entrevistas coletivas dos clubes, acabei me "decepcionando" (risos), de certa forma. Aquele luxo e organização das salas de imprensa, por exemplo, só existem para quem está acompanhando pela câmera. Quem frequenta o local vê um cenário muito mais amplo. Basta umpequeno quadrado para se instalar uma parede cheia de publicidade e colocar o atleta para dar entrevistas. Na imagem da TV, o material fica perfeito, mas o que é visto pode ser apenas um pequeno espaço no meio de um ambiente totalmente diferente quando visto por inteiro. Para ser mais específico, já notei isso bem antes, quando comecei a fazer algumas matérias eventuais e diversificadas para TV nos tempos de repórter de O Fluminense. Não é algo que muda a nossa vida, nem a do consumidor, mas é uma curiosidade que, confesso, me trouxe uma certa frustração (risos).


8 – Qual a sua visão sobre o futuro do jornalismo esportivo no Brasil?


Patrick - A exigência de velocidade "imposta" pelos sites e a pouca preocupação com a linguagem correta do idioma me trazem uma significativa preocupação com o futuro do jornalismo. Quem nunca viu um título que diz que "o Palmeiras perdeu para o Cruzeiro", e na verdade foi o contrário, mas publicaram antes, com pressa, e acabou dando errado? Quem nunca viu a palavra "dibrou" ao invés de "driblou" numa imagem sobre um jogador famoso? São coisas chatas, que incomodam quem preza pelo bom jornalismo, mas é fruto das exigências atuais (os "novos padrões"). Soma-se a isso a dificuldade encontrada no atual mercado de trabalho e as condições de salário e estrutura para trabalhar. Outra coisa que me incomoda bastante é a preocupação das empresas em "quantos idiomas o candidato àquela vaga tem?". Claro que ter fluência em várias línguas é importantíssimo, porém não pode ter peso maior do que a qualidade do repórter em sua essência. Todas essas questões mencionadas me deixam bastante receoso quanto ao nosso futuro.

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