terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Cineclube bem representado no terceiro dia do Novembro Negro

Atividade debateu racismo e protagonismo feminino, além de trazer uma oficina de bonecas Abayomi


Exibição do curta "Cores e botas"


Por: Mayara Silveira, 7º período

O campus São Gonçalo do IFRJ combinou cinema e artesanato no terceiro dia do Novembro Negro. O projeto Cineclube trouxe a estudante de Graduação em História da UFF e Bolsista PIBIC do Projeto CINEGRITUDE Clarissa Pires e a professora de Geografia e estudante da Pós Graduação em Ensino de Histórias e Culturas Africanas e Afro-brasileiras Gisele da Silva. Ambas defenderam o papel da mulher negra na sociedade em uma roda de conversa após a exibição dos curtas "CORES E BOTAS ", (2010), escrito e dirigido por Juliana Vicente e “AS MINAS DO RAP”, também de Juliana Vicente e a série “EMPODERADAS” – Episódio MC Sofia, escrita e dirigida por Renata Martins e Joyce Prado. O evento ocorreu no dia 28 de novembro.

Ao longo da semana, uma caixa foi deixada no corredor para que os alunos e demais servidores deixassem depoimentos anônimos relacionados ao racismo. A aluna do 4º período do curso Técnico em Química e integrante do coletivo antirracista do campus Maria Rodrigues leu alguns relatos e, a maioria deles, falava de insultos sofridos pelos autores, em decorrência da cor da pele.

Clarissa explica que os negros foram escravizados por brancos e estes legitimavam tal prática a partir de um discurso socioeconômico de que ser negro é ruim, e isto durou séculos. Para ela, a descriminação racial é algo institucionalizado e é impossível falar de racismo reverso: ser chamado de ‘branquelo azedo’ não é o mesmo que ser chamado de ‘macaco’.

Após os curtas e palestra

Gisele conta que o racismo é um sistema de poder e, por isso, só existe contra negros. Ela lembrou de quando teve que cortar os cabelos – usava dreads – para conseguir emprego. “Apesar do bom currículo, era descriminada pelo meu cabelo. Tenho uma filha, tive que me adaptar ao mercado, só quando for concursada poderei me assumir.”

Ela diz que todos devem se assumir, mas não é o que acontece. Negros são obrigados a se moldar para não serem excluídos. Blackpower, tranças, cachos e turbantes, fazem parte da identidade negra.
As duas finalizaram com a conclusão de que mulheres negras sofrem preconceito três vezes: por ser negra, por ser mulher (machismo) e por ser pobre, já que grande parcela das mulheres trabalha para sustentar a casa ou deixa de trabalhar para cuidar dos filhos.

Oficina de boneca Abayomi encanta

Gisele ensinou aos presentes como fazer uma boneca Abayomi, que em Yoruba significa ‘presente precioso’. Reza a lenda que pata acalmar seus filhos durante as terríveis viagens nos tumbeiros da África para o Brasil, as mães africanas rasgavam retalhos de suas saias e criavam bonecas feitas com tranças e nós que serviam de amuleto e proteção. Uma tradição que atravessou o tempo e que mostra a importância da relação com o continente africano, assim como elemento de afirmação e poder das mulheres negras.

Oficina de bonecas Abayomi


 Entenda o evento

O Novembro Negro é uma parceria entre os projetos de Extensão Paro, Penso, Falo (?) e Cineclube e o NEABI – Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas e foi criado em homenagem ao dia Nacional da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares.

O campus São Gonçalo do IFRJ iniciou as atividades do “Novembro negro” com a roda de conversas do projeto de Extensão ‘Paro, Penso, Falo (?)’. O tema desta vez foi "Não vamos falar sobre isso!': Racismo e o mito da democracia racial", e o evento contou com a presença da banda ‘Dois Africanos’ no dia 19 de novembro, conhecida pela participação no programa de televisão ‘Superstar’.


Já no dia 26 de novembro o pátio do campus foi espaço para muita música com a oficina de percussão de Alex Melo. Ao longo da semana, o corredor do segundo piso recebeu a exposição “Literaturas de Viagem no Haiti” Pesquisa de imagem por Miriane Peregrino e Cenotecnia por Bruno Serpa.

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