Gerson Conrad, Secos & Molhados, e consagrado.
Luis Carlos Afonso Pires - 7º Período - Campus Madureira.
Muitas vezes se fala do Rock Brasileiro como se ele tivesse surgido nos anos 80, mas ele também aconteceu na década de 70 com o surgimento de excelentes grupos, que não tiveram talvez o mesmo destaque e tempo de carreira do que algumas bandas década seguinte, certamente eram outros tempos, sem esquecer de movimentos de épocas anteriores como a Jovem Guarda e Tropicália.
Entre essas bandas da década de 70 estavam também grandes nomes como O terço, Terreno Baldio, Bixo da Seda, Vímana, Som nosso de cada Dia, Bacamarte, e até mesmo, discos lançados nessa década por Ronnie Von e Vanusa, cantores mais lembrados pela música romântica, e que possuíam na sonoridade deles, um belo flerte com o Rock. Mas, uma delas foi a que arrebatou a maioria dos Brasileiros na época por sua música diversificada e apresentações avassaladoras, e mesmo com uma curta carreira o grupo certamente ainda é um dos mais originais que surgiu na música Brasileira e que deixou um legado que até hoje fazem com que fãs e músicos reverenciem a música do grupo. O nome deles ? SECOS E MOLHADOS.
Falando neles, aproveitei para entrevistar um dos integrantes. GERSON CONRAD, músico parte do grupo e era o elo entre dois nomes do grupo que talvez sejam mais lembrados que ele mesmo, Ney Matogrosso e João Ricardo, mas, que de maneira alguma diminui a importância de um integrante que compôs para o grupo músicas como “Delírio” e o hino “Rosa de Hiroshima”. Vamos ao papo.
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Capa do primeiro disco do Secos e Molhados. |
Gerson, entre os integrantes do Secos e Molhados, talvez você tenha sido o que acabou menos reconhecido. Você concorda com isso ou acha que talvez tenha sido a mídia que não tivesse dado atenção a isso?
Gerson Conrad: Não vejo dessa forma. Sempre fui o mais recatado, prudente, cauteloso, modesto enfim... acho que por isso acabei por chamar menos a atenção da chamada mídia.
Ainda assim, diante de tantos clássicos do grupo, foi você quem compôs a música mais conhecida do Secos Molhados, “Rosa de Hiroshima”. Como surgiu essa composição?
Rosa de Hiroshima surgiu de uma pesquisa sobre poetas da nossa língua para o trabalho do Secos & Molhados. Estávamos nessa época, lendo muitos autores poetas e, alguém nos presenteou com uma antologia poética sobre Vinícius de Moraes. João Ricardo não se interessou em ler então, restou a mim ver se havia algo relevante que pudesse ser aproveitado para o repertório do grupo. Cheguei em casa, joguei o livro por sobre minha escrivaninha que coincidentemente, abriu-se na página do referido poema. _ Lí atentamente algumas vezes e, percebi que o tema tinha a haver com a proposta politizada que caracterizava nosso trabalho. Resolvi então musica-lo. Escolhi uma melodia simples e doce para vestir o poema pois, o mesmo já era forte por si só. Assim nasceu a parceria com Vinícius, que ao ouvir a música, profetizou que minha melodia eternizaria seu poema até então, tão pouco conhecido.
Você lançou o livro “Meteórico Fenômeno” e na própria introdução dele você lamenta o fato do João Ricardo, citado por você mesmo como principal compositor do grupo, não ter autorizado sua imagem no livro. Fez inclusive uma citação de uma de suas composições. Por que você que ele tomou essa atitude?
João Ricardo possui um caráter excêntrico. Sempre tomou decisões por impulso. Não me deixei abalar por isso. Não permitiu o uso de sua imagem, simplesmente eu e editora, usamos photoshop para resolver essa questão. _ Certamente, João explicaria melhor o porquê de sua decisão. Meteórico Fenômeno, é dirigido aos fãs do extinto grupo, que até os dias de hoje nos cultuam. Não aos parceiros ex-integrantes do mesmo. Aliás, deixo isso explícito na minha composição Direto Recado.
Qual tem sido a receptividade do livro e o ele realmente representa para você?
O livro foi muito bem aceito pela crítica e fãs do Secos & Molhados. Para mim. É só um depoimento de quem, com um olhar maduro, relata a breve história do grupo por ter feito parte dela.
Quando o grupo acabou, você se lançou em carreira solo e fez um disco com a “Zezé Motta. Qual foi o impacto que esse disco teve após sair de um grupo que fazia sucesso no Brasil inteiro?
Impacto mesmo sofreram as chamadas gravadoras na época, que acreditaram quem em separados, cada um de nós, ex-Secos & Molhados, venderia algo perto das cifras alcançadas pelo grupo anteriormente. Para mim, foi apenas a oportunidade de me lançar como compositor registrando assim, meu trabalho autoral.
Em 1981 você lançou o disco “Rosto Marcado”. Por que daí você não deu prosseguimento com sua carreira solo?
Há de se deixar claro, que não interrompi minha carreira em 1981 após o disco Rosto Marcado. Ocorre, que na década de 80, as gravadoras começavam a apresentar mudanças de expectativa de mercado. Por não acreditar em produção independente em nosso país, reservei-me às atividades de shows ao vivo, o que tenho feito até os dias de hoje. Se tiver que lançar alguma mídia musical nos dias de hoje, o farei com uma grife (gravadora) qualquer para, no mínimo, distribuição em território nacional.
Nesse tempo em que o Secos e Molhados acabou, parece que realmente foi Ney Matogrosso quem teve uma carreia solo mais ativa. Falando nisso, ele vai se apresentar no Rock in Rio deste ano com a Nação Zumbi tocando Secos e Molhados. Você fará participação neste show?
Ney Matogrosso é um artista completo. Natural que sua carreira solo tenha sido coroada de sucesso. Quanto à uma possível participação minha no Rock'n Rio, cabe ao Ney responder e, não sou eu quem vai levantar essa questão a ele. _ O que sei é que se fosse eu a me apresentar no palco do Rock'n Rio, certamente o convidaria para acompanha-lo em sua sempre brilhante interpretação de Rosa De Hiroshima. O público adoraria ver dois ex-integrantes do Secos & Molhados juntos mais uma vez.
Se existisse uma possibilidade de retorno do Secos e Molhados algum dia. Você toparia essa reunião?
Isso é utopia. Sempre tive minha mente aberta em respeito aos inúmeros fãs e, se isso fosse viável, naturalmente me reuniria com meus ex-companheiros.
Dos discos que você participou, qual seu preferido, o Primeiro ou segundo?
Não tenho preferência aos discos do Secos & Molhados de 1973 e 1974. Considero ambos, bons discos.
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Gerson Conrad hoje. |
METEÓRICO FENÔMENO
Meteórico fenômeno é o nome do livro lançado por Gerson Conrad, ex-músico do grupo, e que conta um pouco da história dele no Secos e Molhados, que em 1973 surgiu na música Brasileira e se tornou um fenômeno lançando dois discos essenciais para a música Brasileira. O grupo durou pouco com sua formação clássica, que liderado por João Ricardo, acabou se separando por divergências pessoais entre seu líder e o vocalista Ney Matogrosso.